quarta-feira, 23 de setembro de 2009

AS ARTES MARCIAIS E OS VIDEO GAMES

O FASCÍNIO DE SER UM SUPER-HERÓI!

Com o avanço da tecnologia era inevitável que as Artes Marciais chegassem a um novo meio de diversão e cultura: o videogame. Agora já não bastava mais ver aquele intrépido ninja ou aquele valente samurai ou ainda mesmo aquele monje Shaolin capaz de proezas incríveis! Era hora de controlá-los!

O primeiro jogo a ter Artes Marciais como tema foi CHUCK NORRIS SUPERKICK, para o Atari 2600. Talvez, não consigamos aqui enumerar todos os jogos que envolvam o tema, mas pelo menos um pequeno histórico do que foi a trajetória deste ramo dos games.

Chuck partindo em sua jornada.

Nos anos 70 do Século XX, o ator norte-americano Chuck Norris ficou famoso por co-estrelar um filme do inesquecível Bruce Lee. Não sabemos bem qual foi a jogada, a Atari (através da softwarehouse Xonox) lançou o jogo, em 1983, aproveitando a popularidade do astro, no qual o jogador devia conduzir Chuck (com direito aos clássicos gráficos de palitinhos do Atari, que tanto curto) numa jornada para salvar seu mestre das mãos de terríveis ninjas. O jogo começava com Chuck sabendo apenas defender-se de shakens. À medida que o jogador avançava, novas técnicas iam sendo incorporadas até a luta final. O incrível é que todos os movimentos de Chuck como socos, chutes, voadoras, bloqueios e saltos são executados apenas com o único botão do controle do Atari. Vale a pena conferir!

Chuck enfrentando seu primeiro oponente.

A capa de CHUCK NORRIS SUPERKICK, da Xonox.

Quando o Atari aportou no Brasil, a empresa Milmar lançou um "clone", inicialmente chamado "Applevision", depois "Dactar". Com ele, foram lançados cartuchos de quatro jogos, e num deles havia um Karate, no qual dois jogadores podiam se enfrentar num "kumite".

Porém, enquanto podemos dizer que Chuck Norris Superkick foi o primeiro jogo no estilo "briga-de-rua", Karate da Milmar não foi o primeiro na categoria esportiva. Nesta, Boxing (Activision, 1980) ocupa a posição de pioneiro dos pioneiros, por vários motivos, a começar pela perspectiva de visão, que era superior. Dessa forma, eram vistos apenas as cordas, o piso do ringue, as cabeças e os braços dos lutadores, que mais se pareciam com dois caranguejos. Outro detalhe é que o nariz do lutador afunda quando leva um soco, além do som estridente do impacto, semelhante aos efeitos sonoros de socos utilizados no cinema. Para completar, Boxing foi o primeiro jogo a introduzir a vitória por nocaute, o famoso "K.O". (knock out).

A capa de BOXING, da Activision.

Pegue no nariz!

Por essa época surgia nos fliperamas outro jogo que seguia as regras do kumite: Karate Champ, grande sucesso por inovar nos comandos, não havia botões, como nas máquinas tradicionais, apenas duas alavancas de controle (joysticks) para cada jogador, responsáveis por todos os movimentos e golpes dos lutadores. Numa cena de "O Grande Dragão Branco", o amigo grandão de Frank Dux (Van Damme) aparece jogando Karate Champ. Este jogo trouxe também outros elementos inovadores (o mundo dos games é assim...), como estágios de bônus com quebramentos (o que seria copiado por vários jogos mais tarde), desafios contra animais (nada ecológico, mas tradicional), ovação da platéia, arbitragem e graduação, com direito a exame de faixa e ascensão como lutador.
Belíssima capa da Deco

O jovem competidor chegando ao "DOJO"

Começa o KUMITE

Temos então três pioneiros: na categoria "versus", temos BOXING (Atari/Activision) e KARATE CHAMP (Taito); e o pioneiro de todos os "brigas-de-rua" – CHUCK NORRIS SUPERKICK (Atari/ Xonox).

Em 1984 outra novidade chamou a atenção dos assíduos freqüentadores de pontos de fliperama. Misturando as características dos jogos versus (que se transformariam numa febre que dura até hoje) com os clássicos filmes de Hong Kong, IYE AR KUNG-FU tornou-se referência para programadores de jogos de luta. A molecada (e muito marmanjão também, claro) tentava fazer com que Oolong (arcade)ou Lee (NES, MSX), o herói do jogo, repetisse as proezas que eles viam na tv, à época em que a Globo transmitia o saudoso e extinto seriado FAIXA-PRETA. Que época! Ao mesmo tempo, a Irem Corp. lançava KUNG-FU MASTER, jogo não muito difundido, sendo relançado em 1989 pela Atarimania, do qual falaremos mais adiante.

YE AR KUNG-FU para arcade

YE AR KUNG-FU para MSX e NES

Ainda em 1984, houve o lançamento pela BRODERBUND de um dos ícones dos jogos de luta: KARATEKA. A história é velha, salvar a namorada das garras de um clã de karatekas assassinos a serviço de um daimio local. Karateka impressiona pela fluidez da animação, isso nos anos 80 foi uma grande revolução. 25 anos depois, o criador do jogo, Jordan Mechner revelou um EASTER-EGG escondido: Se você colocasse o disquete (que na época era de 5/2") ao contrário no drive, o jogo rodaria de cabeça para baixo.

Karateka serviu de base para uma das séries de plataforma de maior sucesso mundial: PRINCE OF PERSIA, mas esta é outra história. Karateka terá sua tão esperada continuação em breve, segundo o autor.
O original, para APPLE II

A versão para MSX, bem mais bonita

Veja um pequeno filme sobre o jogo: http://www.virtualapple.org/karateka2-fantakeonemoviedisk.html

O cenário ficou meio estagnado até 1986, quando a Technos lançou a pérola entre todas as pérolas do gênero: DOUBLE DRAGON.

Quem não lembra desta tela?


As capas do Atari 2600. Nunca vi esse cartucho, só a ROM para emuladores.

Este jogo tinha mais algumas inovações (o mundo dos games é assim): o jogo combinado com um companheiro por toda a jornada (ou até o fim das fichas!), em que um agarrava um inimigo e o outro o massacrava para ganhar vidas, um arsenal enorme de truques para detonar os inimigos e uma dose de violência jamais vista no mundo dos games: joelhadas na cara, facadas ,puxões de cabelo, chicotadas, "bastãozadas", "barrilzadas" e toda sorte de golpes para enfrentar os Black Dragons e salvar Marion, a eterna vítima dos videogames.

Esse cara já ouviu falar em MARIA DA PENHA?

Cada um por si, Deus por todos e o diabo por nenhum!

O banner do arcade.

A máquina idolatrada!

Os irmãos Billy e Jimmy Lee, na visão do artista Lucas Rugal, de João Pessoa/PB


Diferente desse seguimento, alguns jogos não eram totalmente, ou em quase nada eram ligados às Artes Marciais, mas ainda assim, continham alguns elementos. Um desses era RYGAR–THE LEGENDARY WARRIOR (Tecmo, 1986), um guerreiro atlante que deveria libertar sua terra das forças do mal. O personagem título utilizava como arma apenas um escudo preso por um cabo e se valia de muitos saltos mortais e das técnicas de controle do escudo para vencer os inimigos. Entre as fases, guerreiros em poses de treinamento apareciam na tela, enquanto nosso herói se abraçava a braseiros, prática comum em vários rituais no Oriente.

RYGAR, para PS2: Esquisito.

RYGAR para arcade, 1986.

1987 chegava arrasando com SHINOBI (Beta), jogo que se tornou o preferido entre todos, principalmente depois de aportar, mais tarde, nos video games domésticos, como Master System e Mega Drive.

Tela de abertura no arcade

Tela de abertura no Mega Drive


Capas variadas para Mega Drive

Capa para Game Gear

Joe Musashi era um agente secreto diferente, um ninja (curioso que andava sem máscara). Sua missão era destruir a organização criminosa pertencente a Masked Ninja, um vilão que havia seqüestrado os pupilos de Joe. Pela primeira vez nos jogos foram mostradas as técnicas do nijustsu, como as combinações do "ki" com as forças da natureza, água, fogo, terra e vento. Shinobi trazia muita ação e aventura no estilo "plataforma", contava com shakens e até mesmo uma submetralhadora, inovando nos estágios de bônus com a visão em primeira pessoa, com o jogador atirando shakens contra vários ninjas. Marco de uma era, Shinobi deu margem à criação de inúmeros jogos em que os guerreiros das sombras, os ninjas, estivessem representados.
O gráfico era muito, mas muito colorido!

Joe Musashi também enfrentou ícones da cultura pop, como o Homem-Aranha...


...e Batman. Na verdade, eram diferenças entre as versões americana e japonesa, uma espécie de "easter-egg".

 Capa para NES

Cena da versão para NES

Shinobi logo

A Vingança de Shinobi, para Mega Drive, 1989: a consagração de um jogo já clássico



Shinobi para PS2


Muitos títulos fervilhavam nesta época, sendo impossível enumerar todos, mas a febre dos jogos em dupla foi tão grande que algumas máquinas eram conjugadas de modo que cada jogador (e sua legião de espectadores) tivessem um monitor individual (coisa meio difícil num fliperama dos anos 80, sempre era casa cheia). Dois jogos dessa tendência foram DRAGON NINJA (Bad Dudes) e NINJA GAIDEN. Este último trazia Ryu Hayabusa, um ninja capaz de dar saltos incríveis com a ajuda das paredes (a "aranha" na capoeira) e pendurar-se pelo cenário.

Em 1988, quando a Nintendo aportou por aqui ilegalmente através do Dynavision da Dynacom, trouxe consigo uma versão quase fiel aos arcades de IYE AR KUNG-FU. Era a sentença de morte do Atari, que ainda tentou se sustentar pela Atarimania, que relançou Kung-fu Master, sucumbindo de vez ao NES, com um Kung-fu Master melhor elaborado. As pessoas queriam o NES, pois seus jogos eram iguais aos do fliperama.

Muitos jogos então invadiram o cenário, com títulos como VIGILANTE (Master System), TARGET RENEGADE (NES), URBAN CHAMPION (NES), entre muitos outros. Até mesmo grandes nomes das artes marciais tiveram sua vez (ainda que tardia), com o lançamento de JACKIE CHAN - THE PROTECTOR (NES), e DRAGON - THE HISTORY OF BRUCE LEE (SNES), alguns anos mais tarde.

Jogos de sucesso se mantiveram presentes através de continuações. Lançado nos arcades, DOUBLE DRAGON II - THE REVENGE trouxe um tom maior de violência, quando a gangue dos Black Warriors volta para matar Marion, em vez de raptá-la. Os irmãos Billy e Jimmy agora enfrentam, além dos tradicionais inimigos, seus próprios clones, antes da batalha final. Em DOUBLE DRAGON III, a coisa começou a perder a graça, foi um joguinho meio chato, na minha opinião, difícil de jogar, foi logo esquecido.

Muitos títulos pipocaram nos anos seguintes, é impossível enumerar todos, então fica aqui minha pequena contribuição para divulgar a evolução deste gênero que anda tão esquecido nestes tempos de JOGOS DO CÃO (GTA e MMOORPGS da vida).

Aguardem a segunda parte: a consolidação dos jogos "versus".

4 comentários:

José Ricardo disse...

Como não encontrei seu e-mail, faço uso deste espaço.

Tião Ferreira, gostaria de confirmar se o texto "Como policial militar" é de sua autoria.

"Como policial militar, enfrentei o maior choque cultural da minha vida, ao ter de argumentar com todo tipo de pessoas, do mendigo ao magistrado, entrar em todo tipo de ambiente, do meretrício ao monastério..."

Em caso positivo, gostaria autorização para publicá-lo em meu blog (www.universopolicial.com).

Aguardo resposta.

Respeitosamente,

Sgt Monteiro.

carvalhorama disse...

Sou oficial reformado da PM de S Paulo e reconheço no seu texto "Como Policial Militar" um ato de grande justiça praticado por quem tem conhecimento de causa e, mais do que isso, uma indicação da necessidade de refletir profundamente sobre as raízes da atual situação social do País.
Estou tomando a liberdade de reproduzir o seu trabalho para toda a minha lista e gostaria de que você soubesse disso, com o meu mais efusivo cumprimento.

Sebastião Alberto Corrêa de Carvalho Ribeirão Preto -SP

GeórgiaCâmara disse...

Olá Tião Ferreira. Falo aqui de minha alegria em ver seu comentário no meu blog. Ali,apesar de ser um ambiente público, é um espaço para amigos e por esse motivo você sempre será bem vindo.

Fico feliz que tenha procurado "suas melhoras", como costumamos dizer em nossos quarteis, mas o melhor de tudo é que você faz o que gosta.

Volte sempre querido! Só não garanto falar de games porque o máximo de modernidade que aprendi foi o ATARI..rsrsr

Bjus

Fique com Deus

Geórgia

Jorge "Pop Introducer" disse...

Só uma dúvida, brother... Aquela foto da versão do Karateka de MSX, tem certeza que é mesmo de MSX?
A que eu tenho aqui é monocromática, portada do ZX Spectrum, se não me engano!
Valeu